“Eu moro com a minha mãe, mas meu pai vem me visitar, eu moro na rua não tenho ninguém, eu moro em qualquer lugar....”, o verso da canção Pais e Filhos, do grupo Legião Urbana, pode ser um ponto de conexão entre mediadores e adolescentes que vivem uma ruptura familiar e assim conseguir ajudar a encontrar saídas para o sofrimento.
A música pode ser a chave para conquistar a confiança dos adolescentes durante a Oficina de Pais e Filhos, ferramenta disponível dos Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc) instalados nas comarcas de Mato Grosso, de acordo com a psicóloga Fabiana Cristina Aidar da Silva, que ministrou uma das palestras do curso de Formação de Expositores da Oficina de Parentalidade e Divórcio, realizada na quinta e sexta-feira (25 e 26 de abril), no auditório Gervásio Leite, no Tribunal de Justiça de Mato Grosso.
O encontro é organizado pelo Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos (Nupemec) e é voltado para magistrados e servidores que trabalham com mediações de conflitos sociais em Cuiabá e nas 42 comarcas do interior do Estado que possui o Cejusc instalado.
A psicóloga, que também é mediadora familiar judicial, perita e parecerista destaca que não apenas os pais sofrem com o processo de separação, como os filhos também enfrentam conflitos com a nova situação, e somados as dificuldades próprias da adolescência podem desenvolver problemas sociais, como delinquência ou rebeldia.
Segundo ela, para evitar diversos distúrbios entre os adolescentes é preciso que eles saibam lidar com esses sentimentos. “Neste momento de conflito que as famílias vivem, que é de separação ou o divórcio, a gente conseguir empoderar todos integrantes da família para que de fato alcancem a paz é muito importante”, acredita.
No trabalho desenvolvido por Fabiana, ela percebe que muitos adolescentes chegam à oficina com depressão, ansiedade, com sentimentos de perda, pressionado a tomar partido do pai ou da mãe ou ainda assumindo uma responsabilidade que não é deles. “A primeira consciência que o adolescente tem que ter é que eles não têm responsabilidade nenhuma pela união e nem pela separação dos pais”, ensina. “A construção da paz é responsabilidade de todos nós, como é que a gente pode esperar que só essa transformação com os pais pudesse promover essa paz que a gente tanto espera para a família toda?. Falar sobre isso com os filhos, deixar que eles se expressem, como eles se sentem é promover a paz”, conclui.
O juiz Hildebrando Costa Marques, coordenador do Nupemec, lembra que a oficina é uma recomendação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e tem por objetivo preparar pais e filhos com a nova situação surgida com a dissolução do casamento. “A ideia é fazer com que os pais entendam suas responsabilidades, que o rompimento do vínculo conjugal não rompe o vínculo parental, eles continuam sendo pais e da mesma forma é necessário trabalhar com os filhos, tanto crianças quanto adolescentes para que também compreendam que a família não acabou, que ela mudou, tem um novo formato, mas ele continua tendo pai, continua tendo mãe, continua tendo lar e continua tendo afeto que necessita desses genitores e mais ainda que ele não tem responsabilidade nenhuma sobre o que acontece com os pais”, reforça.
Na visão do magistrado, as oficinas preparam tanto os pais quanto os filhos para lidar com a nova situação, para não prejudicar os filhos, a manter o clima de cordialidade e para os filhos entenderem o que está acontecendo com eles. “Quando passam por esses processos facilita muito a autocomposição no processo eventualmente existentes. As partes vão preparadas para uma audiência de conciliação, de mediação, um conjunto de ferramentas poder pacificar conflitos que é muito mais eu resolver processos”.
O gestor do Cejusc de Tangará da Serra, Nivaldo Lima, informa que o Centro está funcionando há dois anos na comarca e já realizam seis oficinas de Pais e Filhos. “Cada uma traz uma experiência diferente, mas todas têm algo semelhante que é verificar o quanto contribuem para melhorar o relacionamento entre pais e filhos, e mesmo pais em situação de conflitos que após terem contato com conteúdo da oficina fazem uma reflexão, pois é voltado para a realidade de cada um e a partir de então temos conseguido resultados maravilhosos do relacionamento entre esses pais e a forma como eles tratam seus filhos”, avalia. “Fico muito contente ver o Poder Jurídico tendo o olhar voltado para humanização, de mais proximidade e permitir que as pessoas participem do processo de solução de conflitos e chegar a vida das pessoas de forma a colaborar para que as pessoas sejam mais felizes”, define.
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