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Autismo na Escola - Discussão (TJMT) Mato Grosso

O Autismo e a Inclusão Escolar foram os temas do Workshop, realizado pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) em parceria com a Ong Ação Azul, que contou com a participação de vários profissionais que trabalham diariamente com o assunto. Essa é uma das preocupações do Poder Judiciário em promover diversas ações fora dos gabinetes e que vão além do julgamento de processos.
Este é o terceiro ano consecutivo da realização de um evento voltado especificamente para o autismo e a cada ano a procura é maior, já que a ação é voltada para magistrados, servidores e público externo. No Tribunal de Justiça, cerca de 10 servidores têm filhos com o Transtorno do Espectro Autista e, segundo a organizadora do workshop, Jane Selma Barbosa, essa foi uma forma encontrada para alertar e informar o público-alvo.
“O tribunal foi muito sensível à causa. Essa é uma ação social e só temos a agradecer porque, com base nesses eventos, temos alertado vários servidores, inclusive de comarcas do interior, sobre o diagnóstico e a aceitação. O programa Bem Viver tem sido um parceiro muito importante, chamando cada vez mais pessoas. Este ano focamos na inclusão escolar porque tem uma grande relevância para nossos filhos. Também sou mãe de uma criança que tem autismo e é muito importante ter essas informações, que fazem toda diferença”, disse Jane.
A aceitação e a eliminação do preconceito, especialmente na família de um autista, são alguns dos fatores primordiais para a inclusão, não apenas do autista, mas de qualquer cidadão, seja na sociedade ou na escola. Esse é o entendimento do professor e neuropsicopedagogo, da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), Kilwuangy Kya Kapitango-a-Samba, que participou da roda de conversa realizada durante o evento. “Qualquer pessoa tem direito à educação escolar, um direito fundamental inerente ao cidadão. Temos que tentar encontrar elementos que nos permitam mitigar tudo aquilo que se torna obstáculo a qualquer cidadão. Temos que eliminar barreiras, que são os preconceitos na família e nos espaços sociais e entender que essas especificidades são meramente acidentes e não são elementos inerentes ao ser humano”.
De acordo com o professor, esses acidentes não constituem o ser. O ser tem um transtorno, o que é diferente. “Ele tem um transtorno, não é transtornado. Não é da natureza do ser humano ser autista, é um acidente de percurso, de desenvolvimento neurobiológico que nos leva a ter um transtorno x ou y, mas isso não significa que o ser humano é assim e isso é o que nos permite aceitar qualquer acidente que a gente tenha. Por exemplo, uso óculos e tenho que aceitar essa minha condição para superar barreiras durante o processo existencial”, complementa.
Uma das maiores dificuldades, atualmente, para que a inclusão escolar ocorra é no que se refere à capacitação profissional, segundo a fonoaudióloga Adriana Fernandes, que ministrou palestra com o tema: ‘Inclusão Escolar da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista’. “Em termos de estrutura está muito complicado, mas a capacitação profissional, sendo bem feita, compensa a dificuldade estrutural. É importante potencializar o que já está sendo feito de bom e de positivo nesse movimento para que essas pessoas realmente tenham uma inclusão efetiva no ambiente escolar das pessoas autistas. Por isso, a importância desse evento proporcionado para tanta gente, aberto para público para discutirmos e começarmos a pensar na matriz pedagógica curricular e realmente repensar o olhar para essas pessoas dentro da escola, dentro do ambiente escolar.”
Um dos trabalhos desenvolvidos pela fonoaudióloga e que foi apresentado durante o workshop foi a experiência dos próprios autistas. Adriana Fernandes realiza pesquisas através de autistas funcionais, que falam da própria dificuldade, sobre o olhar deles. “Isso pode ajudar na aprendizagem. Quanto mais compreenderem o contexto, mais se envolvem e se sentem pertencentes e contribuintes também. Um dos caminhos é adaptação e, para isso, o caminho é capacitação. Se sei adaptar, sei receber melhor o aluno. Por isso, é muito importante movimentar em coletivo, pois a força é muito grande. Por isso esse evento tem essa grande força”, ressalta.
Há 29 anos atuando na área de educação especial, a professora Helena tem quatro filhos, dois são autistas. Há um ano, a filha de dois anos teve o diagnóstico de autismo fechado após a mãe perceber a regressão na fala, e pouca interação com as pessoas, especialmente no âmbito familiar. Após um ano de tratamento, Helena conta que são visíveis as mudanças e evolução da criança, mostrando a importância do diagnóstico precoce. Nesse um ano de tratamento da filha mais nova, a professora passou a observar a outra filha de 18 anos e percebeu comportamentos e dificuldades de interação social. Há três meses diagnosticada também com autismo, hoje a jovem faz terapia, e a mãe conta a luta que é fazer os acompanhamentos necessários, já que não há tratamento disponível na rede pública de saúde. “Tudo a gente tem que custear porque os planos de saúde não cobrem e o diagnóstico ainda não chegou ao consultório dos pediatras. Com isso, é muito importante fazer eventos como esse. O tribunal está de parabéns apoiando essa causa”.
A vice-diretora-geral do Tribunal de Justiça, Cátia Maciel, falou sobre a importância da conscientização e socialização voltadas para servidores e também público externo, oportunidades que têm sido oferecidas pelo Poder Judiciário.
Cátia agradeceu a presença dos participantes que contribuíram para o enriquecimento do debate, como a Ong Ação Azul e daqueles que participaram da roda de conversa, palestra, ou como espectadores. “Esse evento vem aperfeiçoar a intenção de valorizar as ações inclusivas. Sabemos que esse é um transtorno que acontece em muitos lares e o Poder Judiciário não pode ser visto como um simples homologador de conflitos, e sim como um ente que participa na socialização e conscientização a respeito da problemática desse transtorno. Importante ressaltar que essa ação foi solicitada pelo Programa Bem Viver alinhada aos eixos de atuação do biênio 2019/2020, em especial a atuação institucional e a gestão de pessoas e organização, com total apoio do Poder Judiciário”, destaca.
Para o enriquecimento da troca de experiências, foi realizada uma roda de conversa com especialistas na área, e apresentado casos de sucesso escolar, de boas práticas sobre a inclusão escolar e palestra com o tema: ‘Inclusão Escolar da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista’.
Uma das participações da roda de conversa foi do deputado estadual Wilson Santos (PSDB), que é autor do projeto do primeiro Simpósio de Políticas Públicas para o Autismo e que tem realizado várias ações nesse sentido, como reuniões e audiências públicas.

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